Como se conseguia perucas para cosplay em 2014?
Sem Shopee e Shein, como a gente se virava?
Muitas pessoas que me conhecem nas redes sociais sabem que eu sou cosplayer desde 2014, hoje perdi a conta de quantos cosplays eu tenho, entre eles tem comprados em lojas, feitos a mão por mim e pela minha mãe, e tenho até alguns feitos a mão por outras pessoas, e no final de 2023, eu peguei uma galera falando que ia desistir do cosplay porque a maldita taxação do Haddad ia impedir as pessoas de comprarem os cosplays da marca Doki Doki.
Eu confesso que eu odeio essa taxação, acho desnecessária, além de deixar o produto mais caro, eles querem que a população compre das lojas já existentes no país, mas, infelizmente, as lojas existentes no país não dão a mínima para pessoas fora do padrão, não produzindo roupas para o seu tamanho, se produzem elas são feias e ainda a pessoa sai desconfortável por algum comentário babaca de vendedores, mas as pessoas estarem revoltadas por não terem cosplay de marca é o fim da picada, ainda mais que atualmente temos a Shopee e a Shein que permite compras em território brasileiro sem precisar cair na taxação.
Toda essa situação me fez iniciar uma série de contos no TikTok de como era na época que eu comecei a fazer cosplay, que rendeu dois vídeos, eu teria que fazer mais, mas desisti daquela plataforma e acho que seria uma boa ideia trazer para cá porque sempre fui mais adepta a escrita.
Como se conseguia peruca na época?
Em 2014, os cosplayers tinham opções limitadas para conseguir perucas, o Ebay e o Aliexpress existiam nessa época e eles sempre venderam perucas, você podia comprar uma peruca simples e estilizar em casa através de um tutorial no YouTube ou você pagava muito mais caro e investia em uma peruca que já era estilizada, e provavelmente ia causar um rombo no seu bolso e na sua carteira. Para adquirir essas perucas através desses dois sites, você precisava ter um cartão de crédito internacional, que diferente dos dias atuais, que é mais fácil ter, naquela época tinha uma burocracia imensa, era análise de crédito, era um cartão separado, enfim, uma dor de cabeça, então poucas pessoas tinham.
Quem não tinha esse cartão de crédito internacional tinha duas opções: Pedia para algum parente ou conhecido que confiava em você para isso ou você comprava de alguma boa alma caridosa que encomendava para você como um mediador, e geralmente essa pessoa tinha uma lojinha cosplay no Facebook que vivia se divulgando nos grupos de venda, compra e troca cosplay.
Esses grupos eram criados no Facebook para que as pessoas que tinham lojas, e que não tinham, pudessem divulgar as coisas que estava vendendo, comprando ou trocando, diariamente haviam posts de pessoas querendo trocar um cosplay que tinha por outro que queria ter, pessoas querendo comprar uma peruca ou um cosplay específico, além de pessoas e lojas querendo vender cosplays e perucas, a maioria comprava uma quantidade de perucas simples e anunciava como um negócio e outros tinham em casa para um cosplay, desistiram e colocavam para vender.
Você entrava em contato através de mensagens no inbox da pessoa e ela falava as perucas que tinha e seus preços, pedia seu CEP onde ela calculava o valor e você pagava tudo junto se tinha interesse e queria comprar, mas em uma época que não tinha Pix, minha filha? As coisas não eram rápidas, louvado seja o Pix! Na época, você precisava pegar todos os dados bancários da pessoa que estava vendendo, ir até o banco em um caixa eletrônico e depositar o dinheiro ou fazer uma transferência bancária, isso demorava muitos dias úteis até ser debitado, isso quando não cobrava taxa de transferência e quando não era final de semana e você tinha que esperar até segunda-feira para ver se o dinheiro cairia na conta da pessoa, até lá, você ficava com medo de ter mandado para a pessoa errada. Quando realizasse a transação, você tinha que tirar uma foto do comprovante e mandar para o chat da pessoa ou lojinha.
Depois de toda essa dor de cabeça, você tinha que esperar e rastrear pelos Correios até a sua peruca chegar, isso causava alguns atrasos que deixava você e a pessoa do outro lado desesperadas, até que a peruca finalmente chegava. No caso do Aliexpress e do Ebay, você tinha que esperar muitos meses, pois além de ser internacional, o produto ficava parado em Curitiba por muito tempo até ela ser liberada.
O medo de ser um golpe era constante, mas se pedia uma vez, a gente conseguia depositar uma confiança, além disso, nesses grupos haviam um tipo de postagem com marcações de Feedbacks sendo divididos em “feedbacks positivos” e “feedbacks negativos” onde pessoas postavam suas experiências com compras, vendas e trocas relacionados aos integrantes do grupo e é aqui que o filho chora e a mãe não vê.
Os feedbacks negativos eram um show de barraco ao vivo que rendia altos papos, ainda mais se você tinha amigos no meio cosplay, o problema desse mundo é que todo mundo se conhece, então se você é uma pessoa que ama fazer um barraco e causar confusão, pode ter certeza que todo mundo te conhece por essa confusão e muitas lojas acabavam caindo na boca das Matildes.
Por causa disso, na época, uma advogada que também era cosplayer criou um grupo chamado “Divulgação de Calotes e Caloteiros” onde existia uma lista com todas as lojas e pessoas que não se podiam realizar venda, compra e troca por serem caloteiros e golpistas, lembro que tanto o perfil dessa moça como esse grupo caíram várias vezes por denúncias dos caloteiros, que se sentiam difamados, o que surgiu a criação do 2.0 e depois nunca mais tivemos notícias da moça e do grupo.
Tinha uma loja que era, supostamente, o suprassumo de caloteira, hoje a loja não existe mais e não vou dizer o nome porque a dona adorava um barraco, mas tinha muitos feedbacks negativos em todos os grupos existentes, até de brechó cosplay. Essa loja vendia perucas e acessórios cosplays, ela tinha muitos seguidores e, aparentemente, a dona era muito famosinha, na página da loja haviam vários feedbacks positivos que se sobressaiam em cima dos negativos, que mais tarde foi descoberto que eram amigos e parentes da dona que escreviam esses feedbacks positivos para não queimar a loja e para invalidar os feedbacks das pessoas que sofriam calote, ela promovia mutirão para derrubar os perfis das pessoas que falavam qualquer coisa da loja dela, inclusive, uma das quedas do Divulgação de Calotes e Caloteiros, supostamente, foi ela, reza a lenda.
Uma pessoa que eu conhecia na época, inclusive, havia encomendado uma peruca com essa loja, que havia errado o pedido três vezes até a pessoa se irritar e pedir reembolso, não sei se a pessoa conseguiu seu reembolso, mas passou meses pedindo com a promessa de que logo receberia e não recebia nunca.
Também tivemos um caso que foi parar na televisão, na Patrulha do Consumidor, um quadro do Programa da Tarde da Rede Record onde uma menina e seu irmão haviam encomendado dois cosplays de Sword Art Online por um site grande que produzia e vendia cosplays, era para o aniversário de quinze anos da menina, o prazo estava chegando e eles não haviam recebido o cosplay, quando o programa ligou para a loja, eles falaram que em nenhum momento haviam falado sobre prazo para a entrega, mas eles conseguiram entregar o cosplay a tempo do aniversário, isso dividiu opiniões na época.
Por causa da Shopee e Shein, até Mercado Livre, que vendem perucas e entregam em casa, muitas dessas lojas precisaram se reinventar, produzindo acessórios ou roupas de personagens específicos, mas esses grupos de compra, venda e troca ainda existem, as pessoas ainda querem vender e trocar seus cosplays em um bom estado por um preço mais em conta, as coisas facilitaram muito de uns tempos para cá e ainda bem que facilitaram.

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