Vamos falar de Logoterapia e Viktor Frankl?

 Quem foi Viktor Frankl e o que aprendi sobre ele na Psicologia?


Imagem de Viktor Frankl. Homem de cabelos grisalhos, usando óculos de armação transparente e um jaleco branco com um sorriso singelo no rosto. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Viktor_Frankl

No ano de 2018, comecei a cursar Psicologia e no final de 2019, tranquei o curso por não ter condições de continuar, logo, também surgiu a pandemia, o que me fez ficar reclusa em casa pensando na vida até entender que Psicologia não era a minha área e me aventurar em Biomedicina.

Mas antes de trancar a faculdade, tive uma aula interessante sobre Logoterapia em uma das matérias escolhidas naquele semestre, que me chamou a atenção e me fez falar um pouco sobre o assunto na rede X, agora, acho que seria interessante trazer para cá, quem quiser introduzir mais alguma coisa, fique a vontade, mas quero deixar claro que todas as informações colocadas aqui foram tiradas de um artigo dos autores Larissa Assunção Rodrigues e Lúcio Alves de Barros, intitulado “Sobre o fundador da Logoterapia: Viktor Emil Frankl e sua contribuição para a Psicologia” publicado em 2009 e que me foi apresentado pela professora em 2019.

O Viktor Emil Frankl nasceu em 1905 e faleceu em 1997, ele foi o responsável pela teoria da Logoterapia, também conhecida como a Psicologia do Sentido da Vida, algo considerado humanístico-existencial que se iniciou na Segunda Guerra Mundial.

Frankl nasceu em Viena, na Áustria, ele era descrito como um homem muito sensível e admirador da natureza, sua família era judaica, ele era o filho caçula e tinha dois irmãos, seus pais eram tchecoslovacos vindos da Morávia do Sul, em Praga.

O pai de Frankl trabalhava como diretor no Ministério da Educação e se destacou pelo seu trabalho político e cultural relacionado aos problemas que os jovens enfrentavam na época, pois o cenário socio-político de Viena era o da luta de classes e as pessoas sentiam carência do sentido da vida. Já a mãe de Frankl fazia parte da família do rabino Loew da sinagoga mais antiga da Europa.

O clima familiar era alegre e calmo, os valores espirituais eram tratados de forma séria dentro da família e tanto a infância como a adolescência de Frankl foram consideradas ricas de calor humano e cultural. Já que estamos falando da infância, desde criança, Frankl tinha o sonho de se tornar um médico, ele falava que queria uma conduta diferente na profissão para que não precisasse recorrer o tempo todo a apenas os remédios.

Com a chegada da Primeira Guerra Mundial, a família de Frankl começou a passar por problemas econômicos, fazendo a trajetória da família sofrer marcas por causa disso, eles enfrentaram fome e desespero ao ponto que Frankl e seus irmãos roubavam e pediam esmolas para sobreviver.

Desde os 13 anos, Frankl se mostrava preocupado em saber qual era o sentido da vida, mas foi na adolescência que ele decidiu se dedicar ao estudo apurado da Filosofia após se indagar novamente sobre o sentido da vida ao ver que um colega havia cometido suicídio enquanto segurava um livro de Nietzsche nas mãos. Foi em 1924 que ele ingressou na Universidade de Viena no curso que sempre sonhou, Medicina, e conseguiu se formar em 1930, nessa época ele publicou muitos artigos, que na maioria, eram dedicados aos jovens, pois era a fase que ele percebia que haviam mais sofrimentos, conflitos, falta de sentido da vida e falta de significado dela.

Sigmund Freud, conhecido como o Pai da Psicanálise atualmente, mesmo que haja algumas controvérsias sobre seus métodos e estudos, sempre respondia as cartas que Frankl enviava a ele, inclusive, em 1924, quando Frankl ainda era um universitário, Freud publicou um artigo sobre Frankl na Revista Internacional de Psicanálise.

E vocês acham que Frankl também não publicava uns artigos? Em 1925, ele publicou um artigo sobre a clarificação da zona limítrofe entre a Psicoterapia e a Filosofia para a Revista Internacional de Psicologia Individual, nesse artigo, ele deu ênfase na problemática do sentido e dos valores na Psicoterapia.

Muitos de vocês que tem um mínimo de interesse em Psicologia já ouviram falar de Alfred Adler, um psicólogo austríaco, também nascido em Viena, que teve influência em Freud, quando ele se desvinculou da Psicanálise Freudiana, Frankl começou a se interessar muito pela Psicologia Individual de Adler, julgando que a teoria era a mais atenciosa aos problemas existenciais relacionados a totalidade e o sentido da vida dos seres humanos.

Mas é óbvio que Freud desvalorizou as pesquisas que mostravam os caminhos do sentido da vida, inclusive, ele escreveu uma carta para Marie Bonaparte dizendo que no momento que se interroga sobre o sentido e o valor da vida, a pessoa já está doente, pois para ele, os dois problemas não existiam no sentido objetivo.

No III Congresso de Psicologia Individual Vienense em 1926, Frankl apresentou um trabalho sobre Neurose como Expressão do Meio, nesse trabalho, ele defendeu que a neurose pode ser um indício da necessidade de um significado, mas infelizmente, Alfred Adler não aceitou a publicação do trabalho de Frankl, foi assim que começaram a rolar divergências, paradoxos e até mesmo contradições entre Adler e Frankl, que começou a colaborar com Allers e Schwartz.

Frankl dedicava uma grande atenção ao sentido da vida por causa de alguns fatos que ocorriam como crescimento de fugas, abandono das famílias e até mesmo o suicídio de jovens que aconteciam no período das férias, ele estava começando a pensar que o sentido da vida era uma neurose coletiva. Mais tarde, ele se tornou discípulo do filósofo alemão Max Scheller e buscou a Filosofia porque estava interessado em ampliar o seu conhecimento sobre a essência do ser humano e sobre as condições que desencadeiam perturbações espirituais.

Em 1927, Frankl fundou e dirigiu uma revista de orientação psicológica com o nome de “O Homem do Dia-a-Dia”, nessa época ele se desligou das influências de Adler e criou centros de atendimento para jovens que estavam fugindo de casa e cometendo suicídio, inclusive, Frankl foi o primeiro diretor desse centro e teve colaboração de Allerz, Schwartz e, por incrível que pareça, de Adler também. Nesse centro, os jovens eram atendidos e consultavam de forma gratuita e isso trouxe bons resultados, pois as fugas e os suicídios diminuíram de forma notável.

Com 1 ano de criação e funcionamento desses centros, Viena não teve nenhum registro de suicídio e esse índice continuou por muitos anos, eles funcionavam em residências particulares e em escolas como uma forma de atrair mais os jovens que precisavam de alguma ajuda, provavelmente, como uma forma mais acessível de pedir socorro.

O primeiro núcleo da Logoterapia tomou forma quando Frankl estava trabalhando com Oswald Pöltz na clínica neurológica da Universidade de Viena, ele realizou investigações mais aprofundadas e organizou um quadro de referência axiológico e isso fez muitas pessoas encontrarem uma razão de viver. Após essa colaboração com Oswald, Frankl também prestou serviços por quatro anos para o Hospital Psiquiátrico de Viena no pavilhão com pessoas afetadas por manias suicidas. Em 1936, ele se tornou neuropsiquiatra e abriu seu próprio ambulatório em 1937.

Mas nem tudo foram flores na vida de Frankl, em 1938, Hitler invadiu a Áustria e começou a perseguir pessoas que ele não considerava “raça pura”, isso fez Frankl continuar seu trabalho na área do Rothschildspital, que era um lugar reservado exclusivamente para hebreus. Foi nessa época que a lei que impunha eutanásia para alguns pacientes entrou em vigor e Frankl foi contra essa lei e fez de tudo para lutar a favor da vida das pessoas sem medir esforços.

Infelizmente, a Segunda Guerra Mundial começa e, por sorte, Frankl consegue um visto para os Estados Unidos, a sua irmã havia se refugiado para a Austrália e o seu irmão foi para a Itália, mas foi capturado pelos nazistas e foi mandado para um campo de concentração. Foi em 1941 que Frankl casou com Tilly Grosser, ele pensou em migrar para os Estados Unidos já que possuía o visto, afinal, poderia viver em paz com sua esposa, na época, grávida, e ter uma vida profissional, mas ele estava preocupado com seus pais, afinal, eles estavam na fase idosa da vida, eram judeus e se fossem encontrados, seriam mandados para os campos de concentração, por isso, Frankl foi até a Catedral de Viena suplicar a Deus para mandar um sinal que o ajudasse a tomar sua decisão e quando voltou para casa, havia um pedaço de mármore em cima de um móvel, esse mármore havia sido resgatado pelo seu pai nos destroços da sinagoga e o quarto mandamento de Moisés escrito: “Honrarás pai e mãe” estava no mármore, isso fez Frankl tomar a sua decisão e ficar no país ao lado dos seus pais.

Em 1942, infelizmente, Frankl foi capturado pelos nazistas e foi forçado a interromper a sua carreira, passando por quatro campos de concentração e ainda viu a sua mãe entrar em uma câmara de gás para morrer. Ele permaneceu nos campos de concentração até 1945, ele já estava com 40 anos de idade, estava pesando 25kg, e quando saiu, passou um tempo aproveitando a sua liberdade, depois começou a trabalhar no seu primeiro livro intitulado “Em Busca de Sentido — Um Psicólogo no Campo de Concentração”, ele redigiu estudos meta clínicos, e em 1952, ele salientou a noogênese em um artigo chamado “Dimensões do Ser-Homem”.

Também existe um artigo de Frankl com o nome “Indicações da Logoterapia Analítico Existencial” onde ele apresenta o conceito de Neurose Noogênica e a temática central da Logoterapia é a frustração existencial que é causada pela carência do sentido manifestada através da depressão, da angústia e de outros sentimentos.

Então vamos falar mais da Logoterapia?

A Logoterapia trabalha com o sentido, quando se é falado sobre frustração existencial, estamos nos referindo a uma pessoa que não consegue tomar decisões sozinha e acaba por deixar as outras pessoas tomarem as rédeas da sua vida, do seu sentido, ou quando essa pessoa assume o sentido da outra pessoa, assume as decisões da outra pessoa. Um exemplo disso é um jovem que decide ser advogado porque seus pais querem, sendo que o maior sonho desse jovem é ser um historiador, ou seja, o sentido da vida desse jovem é ser historiador, mas o sentido da vida de seus pais é que ele seja advogado, e isso causa uma frustração existencial no jovem.

Já a Neurose Noogênica, que foi citada mais acima, se refere aos conflitos da consciência moral para a colisão de valores e para a sensação de falta de sentido, e pode ser expressada através de uma sintomatologia neurótica, um exemplo dos dois conceitos citados em um que usarei, é um estudo de caso que tivemos em aula: Uma moça que fazia faculdade em um curso que ela amava, precisou trancar o curso e começou a trabalhar em uma lanchonete, ela se sentia frustrada com isso, mas não porque ela achava que trabalhar em uma lanchonete era um trabalho ruim ou algo assim, era porque aquilo não era o que ela queria fazer da vida e ela não via sentido em trabalhar em algo que não era o que ela queria, pois para ela, o que tinha sentido era trabalhar e ganhar dinheiro na profissão que ela estava cursando a faculdade, por isso, ela desenvolveu a sintomatologia neurótica, onde ela lavava as mãos diversas vezes com medo de contaminar as comidas, ela achava que mesmo usando touca e estando de cabelo preso, ainda cairia um fio de cabelo na comida, ela achava que a comida que fazia era ruim, isso a fez desenvolver mania de limpeza.

Após muitas sessões de terapia, ela finalmente se abriu para o terapeuta falando que ela se sentia frustrada por ter trancado a faculdade, que sentia frustração pela mãe dela não lhe dar atenção e como ela sofria muito com o falecimento do pai dela, através desses desabafos, o terapeuta conseguiu redirecioná-la para encontrar o sentido da vida dela através da Logoterapia.

Mas e a Tilly? Esposa de Frankl?


Infelizmente, a Tilly foi morta em um campo de concentração, Frankl não sabia porque ela tinha morrido até 1984, quando veio ao Brasil para o 1º Encontro Latino-Americano Humanístico Existencial: Logoterapia em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, pois entre as pessoas que o recepcionaram na sua chegada, estava a sua cunhada. A família de Tilly foi para Porto Alegre e o sogro de Frankl era professor na PUC-RS, que era uma das promotoras do encontro no país, foi assim que antes de embarcar de volta, Frankl ficou sabendo do que aconteceu com Tilly.



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