Vamos falar do surto de E. Coli nos EUA?
Um surto da bactéria Escherichia coli em 10 Estados nos Estados Unidos deu o que falar na semana passada.
Semana passada, eu estava tranquila olhando a timeline do Bluesky quando uma pessoa de outro país postou uma notícia sobre um surto da bactéria E. coli nos Estados Unidos por causa de um hambúrguer da rede McDonald’s, e eu, como uma estudante de Biomedicina, decidi saber mais do assunto e me surpreendi que ele não é o primeiro surto, e pensei: “Porque não falar sobre isso?”
Para quem está por fora desse caso, tia Gretel vai elucidar para vocês: A CDC, também conhecida como Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, informou no dia 22 de Outubro que dez pessoas haviam sido hospitalizadas e que uma pessoa idosa faleceu no Colorado por causa de uma infecção pela bactéria E. Coli depois que consumiu o hambúrguer nomeado Quarteirão no McDonald’s, na época estava registrado que 49 pessoas estavam contaminadas pela bactéria. Como se não bastasse, não eram apenas pessoas do Estado do Colorado que estavam infectadas, eram dez Estados contaminados, mas a maior quantidade de casos estavam acontecendo no Colorado e no Nebraska.
O diretor da cadeia de suprimentos do McDonald’s chegou a vir a público falar que a bactéria poderia ter relação com as cebolas fatiadas que são usadas como ingrediente na composição do hambúrguer Quarteirão, inclusive, essas cebolas viriam de um fornecedor que atende três centros de distribuições, mesmo assim o restaurante removeu as cebolas e as carnes.
No dia 27 de Outubro inclusive, o McDonald’s descartou a hipótese da contaminação ter se dado por causa da carne do hambúrguer e o número aumentou para 75 pessoas contaminadas, o diretor da cadeia de suprimentos também deixou claro que qualquer produto relacionado a bactéria E. coli foi retirado de todos os restaurantes da franquia e aparentemente, as lojas afetadas pelo surto de E. coli não servirão mais o hambúrguer Quarteirão com as cebolas cruas.
Mas aparentemente, essa não foi a primeira vez que algo dessa magnitude acontece por lá, em 2020, o restaurante Chipotle Mexican Grill, um restaurante especializado em tacos, tigelas e burritos, precisou pagar uma multa federal de US$ 25 milhões por serem responsáveis por vários surtos em vários restaurantes da franquia.
Essas doenças haviam sido transmitidas pelos alimentos de 2015 a 2018 e teriam adoecido mais de 1.100 pessoas, isso fez o Departamento de Justiça acusar a rede de violar a lei federal ao adulterar alimentos. A empresa culpou seus funcionários individuais em locais individuais e no documento entregue ao Departamento de Justiça, os funcionários do restaurante teriam concordado que eles não seguiam os procedimentos de higiene e que violaram a política de se manterem em casa se estivessem doentes.
Segundo a linha do tempo feita pela Food Safety News, tudo começou em 2015 quando um surto de E. coli O157 estava relacionado a um restaurante Chipotle em Washington, isso teria ocorrido no início de Agosto daquele ano, onde a Saúde Pública de Seattle-King foi investigar o caso após cinco clientes se contaminarem pela doença e três pessoas terem sido hospitalizadas. O Laboratório de Saúde Pública do Departamento de Saúde fez alguns testes genéticos descobrindo que aquela cepa era indistinguível, que nunca havia sido vista antigamente no condado de King.
Também em 2015, o restaurante Chipotle em Minnesota teve um surto de Salmonella Newport, em datas que variavam de 2 de Agosto a 27 de Setembro daquele ano. Foram 81 casos confirmados de Salmonella, com 34 prováveis casos entre clientes de 17 restaurantes da Chipotle diferentes.
Ainda em 2015, a Food Safety News coloca na sua linha do tempo um surto de Norovírus na Califórnia também relacionados a Chipotle, durante a semana do dia 18 de Agosto daquele ano, cerca de 80 clientes e 18 funcionários do restaurante no Simi Valley Towne Center relataram sintomas, os testes laboratoriais confirmaram a presença do vírus, o que fez o restaurante fechar para limpeza.
E não para por aí! Em 2015 tiveram mais dois casos de E. coli no Oregon ligados a mesma rede, o primeiro surto atingiu pelo menos 55 pessoas em 11 Estados e o segundo surto foi com uma cepa diferente identificada como E. coli O26, pelo menos 5 pessoas foram infectadas em 3 Estados.
E 2015 foi o ano do terror mesmo, porque ainda nesse ano, em Boston, 120 estudantes da Boston College ficaram doentes após comerem em um restaurente Chipotle em Dezembro de 2015, claro que após receber tantos casos de problemas gastrointestinais, o caso foi investigado e os testes laboratoriais informaram que era um surto de Norovírus. Houve 136 casos conhecidos de Norovírus de pessoas que comeram no Chipotle, os inspetores fecharam o restaurante da rede próximo ao Boston College.
Agora indo para 2017, a Food Safety News também menciona mais um caso de Norovírus relacionado ao Chipotle, dessa vez em Sterling, mais de 135 pessoas adoeceram depois de comer no Chipotle e dois clientes foram confirmados com Norovírus, na época, o surto foi atribuído por um manipulador de alimentos que estaria doente.
A última ocorreu em 2018 em Ohio, as autoridades investigaram um surto de Clostridium perfringers, pois 647 pessoas ficaram doentes após comer no restaurante entre os dias 26 e 30 de Julho, o restaurante fechou as suas portas no dia 30 para realizar a limpeza e a substituição da comida, reabrindo no dia 31 de julho, ou seja, no dia seguinte.
Mas o que eu vi muita gente comentando e que pelo visto foi um caso que entrou para a história das infecções alimentares foi a do restaurante Jack In The Box, uma outra rede de fast-food, o caso ocorreu em 1993 também nos Estados Unidos e cerca de 700 pessoas em 4 Estados foram contaminadas pela bactéria E. coli presente no hambúrguer da rede, esse caso incluiu quatro crianças falecidas e a maioria dos infectados eram crianças e adolescentes.
Segundo a Food Safety Brazil, o caso recebeu uma ampla cobertura da mídia, pois as vítimas e os familiares vieram a público contar as suas histórias na televisão, as indenizações pagas somavam mais de US$ 50 milhões e o que mais marcou nesse caso foi uma menina de nove anos que se recuperou de forma parcial após a contaminação por E. coli porque além de ter falência renal e outras complicações, ela ficou 42 dias em coma e recebeu US$ 15 milhões de dólares de indenização da Jack in the Box.
Tudo começou no dia 13 de Janeiro de 1993 quando o Departamento de Saúde de Washington foi notificado de que o hospital de Seattle estava tratando um grupo de crianças com Síndrome Urêmica Hemolítica, uma doença grave que é causada pela E. coli, além disso, havia aumentado muito o número de pessoas com diarreia sanguinolenta. Quando o Departamento de Saúde foi investigar os pacientes, todos eles haviam consumido os hambúrgueres da Jack in the Box alguns dias antes.
Esse surto fez com que o Departamento descobrisse que os hambúrgueres produzidos pela empresa Von eram a fonte do surto e esses hambúrgueres eram vendidos pela Jack in the Box. O E. coli pertencente a esses hambúrgueres era do sorotipo O157:H7, foram isolados 11 lotes de hambúrgueres com essa bactéria, a Jack in the Box até tentou pedir recall destes lotes, mas apenas conseguiu recuperar cerca de 20% do produto, pois esses hambúrgueres foram distribuídos a restaurantes de 4 Estados: Washington, Califórnia, Idaho e Nevada.
Os números indicavam que em Washington tiveram 602 pacientes com diarreia sanguinolenta, 144 pessoas hospitalizadas, 30 pessoas desenvolveram Síndrome Urêmica Hemolítica e 3 pessoas morreram. Já na Califórnia, houveram 34 casos, 14 pessoas hospitalizadas, 7 pessoas desenvolveram Síndrome Urêmica Hemolítica e 1 criança veio a óbito. Em Idaho, tiveram 14 casos, 4 pessoas hospitalizadas e 1 pessoa desenvolveu Síndrome Urêmica Hemolítica. E em Nevada houveram 59 pacientes contaminados, 9 pessoas hospitalizadas e 3 pessoas desenvolveram Síndrome Urêmica Hemolítica.
Na época, 73 restaurantes da rede Jack in the Box estavam relacionados ao surto de E. coli, as prováveis fontes usadas pela empresa Von na produção dos hambúrgueres da Jack in the Box eram cinco plantas de abate localizadas nos Estados Unidos e Canadá.
A Jack in the Box cancelou todos os seus contratos com os fornecedores de hambúrgueres, exigiu novas garantias de segurança e indenizou as pessoas, os prejuízos da rede quase levaram a falência e a segurança do consumo de hambúrguer passou a ser questionada pela população.
Mas falamos tanto de E. coli e no fim… o que é E. coli?
A E. coli é uma bactéria comumente encontrada no trato gastrointestinal de animais e humanos, porém, alguns sorotipos, também conhecidos como cepas, são prejudiciais aos seres humanos e podem causar problemas intestinais, que se não tratadas adequadamente, pode agravar a saúde da pessoa.
A forma de se contaminar com essa bactéria é através de carne que não foi cozida adequadamente e se a carne não estiver em boas condições sanitárias. O que também pode ser fonte da E. coli são as frutas, os vegetais, os sucos de frutas e as saladas com vegetais crus, pois geralmente costuma ser usado adubo orgânico bovino para esses vegetais que podem contaminá-los já que a bactéria é encontrada no trato intestinal dos animais.
Por essa razão é importante lavar bem seus vegetais e frutas antes de comer, cozinhar seus vegetais e sua carne em altas temperaturas para garantir que a bactéria seja destruída e evitar problemas com E. coli no futuro, além de uma forma mais rígida da vigilância sanitária monitorar supermercados e redes de restaurantes para evitar esses problemas futuramente, não só nos Estados Unidos, mas em todos os países, inclusive, no Brasil.

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